A AMAMENTAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DA ARCADA DENTÁRIA

LUDMILA ROSA - ODONTOPEDIATRA · QUARTA-FEIRA, 23 DE AGOSTO DE 2017

Ao mamar no peito, a criança não está sendo apenas alimentada, mas está também realizando um exercício físico muito importante para o desenvolvimento da estrutura e musculatura oral.

O recém-nascido é guiado por dois instintos, o da alimentação e o de sucção. O aleitamento materno satisfaz os dois instintos. O bebê toma nos primeiros minutos o leite e nos minutos seguintes, junto ao seio, satisfaz os seus instintos de sucção.

Ao utilizar a mamadeira, a criança atinge a sua satisfação alimentar mais rápido ainda, pois o fluxo sai fácil, principalmente se o furo do bico for aumentado. Quando isso ocorre, ela não sacia sua necessidade de sucção e, portanto sua exigência emocional não é satisfeita. Nestes casos, a criança inicia sucção não-nutritiva para satisfazer suas necessidades psicoemocionais.

Para a manutenção da amamentação materna, é fundamental que sejam eliminados, na medida do possível, o uso de objetos orais, como chupetas e mamadeiras, sendo que o mecanismo de sucção desses bicos é completamente diferente da técnica das mamadas.

Quando a amamentação natural não for possível devem-se evitar ao máximo os efeitos prejudiciais do uso de mamadeiras, como;

Os bebês apresentam grande necessidade de sucção nos três primeiros meses de vida. A partir do sétimo mês, o reflexo da sucção é considerado neurofisiologicamente desnecessário, pois a criança inicia o amadurecimento das estruturas neuromusculares visando os movimentos de comer e beber coordenadamente. A função da sucção deve ser gradualmente substituída pela mastigação.

Durante a amamentação, a respiração dá-se, exclusivamente, pelo nariz, principal estímulo para o correto crescimento e desenvolvimento da face. Além disso, a sucção é a primeira fase da mastigação, é a mastigação antes da evolução neurológica, sendo que nas duas fases trabalham os mesmos músculos. A fase da sucção não realizada corretamente ou mal conduzida leva à falência do correto desenvolvimento das estruturas que irão garantir a perfeita evolução da função seguinte, a mastigação. Quando o aleitamento materno é substituído pelo artificial, a sucção tem que se adaptar ao bico da mamadeira. Por melhor desenho anatômico que ele tenha, a criança deixa de executar um esforço muscular essencial para o crescimento e desenvolvimento facial.

O desmame deve se dar a partir dos 6 meses de vida. Isto porque é nesse período que começam a erupcionar os primeiros dentinhos. Aos 12 meses, a criança já está apta para o desmame total. Quando os dentes erupcionam é o momento de se iniciar a mastigação. Não é indicado que a mãe nesse momento introduza a mamadeira. Os alimentos devem ser fornecidos amassados até 9 meses, dados com colher, e os líquidos em copos. Aos poucos devem ser introduzidas frutas, cereais e outros alimentos, diminuindo assim as mamadas. Quanto ao uso de mamadeiras, estas devem ser eliminadas entre 6 e 10 meses de idade ou até no máximo 1 ano e meio. O abandono da mamadeira depende da maturidade emocional e da habilidade física da criança. Deve-se gradativamente usar o copo em substituição a mamadeira.

A partir de 1990, a Norma Brasileira para Comercialização de Alimentos para Lactentes foi desenvolvida com o objetivo de contribuir à adequada nutrição dos lactentes e para defendê-los dos riscos associados à não-amamentação ou desmame precoce. No artigo 13º, no primeiro parágrafo referente aos rótulos de produtos de mamadeiras, bicos ou chupetas, devem constar, obrigatoriamente, as inscrições "a criança amamentada ao seio não necessita de mamadeira e de bico" (Código de Defesa do Consumidor).


Por: Dra. Ludmila Rosa
Odontopediatra
CROSP 61.170